Desde o início da década de 50, quando nasceu a Faculdade de Direito de Curitiba, passaram pelos bancos de nossa instituição milhares de alunos que, pautados por nossos princípios socialmente responsáveis, tornaram-se profissionais de destaque, que contribuem para a melhoria da qualidade de vida dos
cidadãos, por meio da promoção da justiça, da preservação da cultura e do avanço científico e
tecnológico.
A seção "Por Onde Anda" do Blog Unicuritiba Fala Direito visa resgatar esta história de quase sete décadas dedicadas ao ensino do Direito, contando um pouco da trajetória profissional de alguns de nossos ilustres Egressos.
O primeiro entrevistado é o Juiz de Direito Presidente da 2ª Vara Privativa do Tribunal do Júri de
Curitiba, Dr. Daniel Avelar. Ele concluiu o curso de
Direito no ano de 1999 e logo passou no concurso de magistratura, participando de julgamentos de grande repercussão nacional - como o caso Carli Filho e o caso que ficou famoso como o caso das "Bruxas de Guaratuba", recentemente resgatado no podcast de sucesso "Evandro".
Confira a entrevista concedida aos acadêmicos Felipe Ribeiro e Helem Keiko Morimoto, ambos membros da equipe do Blog Unicuritiba Fala Direito.
Nome Completo: Daniel Ribeiro Surdi de Avelar.
Ano
de ingresso no curso de Direito: 1995.
Ano
de conclusão do Curso de Direito: 1999.
Ocupação
atual: Juiz de Direito Presidente da 2ª Vara Privativa do Tribunal do Júri de
Curitiba.
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UNICURITIBA Fala Direito: Conte-nos um pouco sobre sua trajetória
profissional.
Daniel: Ingressei na
Faculdade de Direito de Curitiba em 1995 e me formei em 1999, quando a faculdade ainda era na sede
antiga. No meu tempo de faculdade fui membro do Diretório Acadêmico Clotário
Portugal (DACP) por várias gestões e da Atlética de Direito Curitiba (AAAC).
Inclusive, fui um dos fundadores da torcida organizada que atua até os dias de
hoje, os “Los Borrachos”.
Fizemos uma simbiose entre a parte do Diretório Acadêmico e a parte esportiva
da faculdade. Em janeiro de 2000 foi a minha colação e no ano de
2001 passei no concurso de magistratura. Assumi em 2002, trabalhei no interior,
em Ivaiporã, Arapoti, Palmas e retornei à Curitiba no ano de 2005. Desde 2008
sou juiz titular na 2º Vara Privativa do Tribunal do Júri de Curitiba.
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UNICURITIBA Fala Direito: Como é o
dia-a-dia no seu trabalho atualmente?
Daniel: As
atribuições de presidência no Tribunal do Júri são divididas em 2 momentos: Do
dia 1ª até o dia 15, realizamos as instruções dos feitos que irão à Júri (momento
em que decidimos se os casos são de pronúncia, impronúncia, absolvição sumária
ou desclassificação) e, no meu caso, do 16 ao dia 31, presido entre 8 a 12 julgamentos
perante a quinzena. Atuo em todos os inquéritos. São apenas 2 varas, então, em 50%
dos crimes contra a vida, também atuo.
Os processos são
divididos por distribuição e os juízes atuam desde a cena do crime (inquérito)
até a presidência do trabalho no júri. Além da 1ª Vara, trabalham 6 promotores
que se dividem na parte de instrução e plenário, bem como existem 2 cartórios
com seus devidos funcionários e devidos assessores.
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UNICURITIBA Fala Direito: Como funciona o Tribunal do Júri?
Daniel: É um Tribunal
especial porque é uma jurisdição prestada por leigos, ou seja, pelos jurados.
São selecionadas 1.500 pessoas por ano que compõem uma lista de indivíduos com reputação
ilibada e acima de 18 anos. Estas pessoas não são necessariamente estudantes de
Direito, tampouco são formadas. São pessoas escolhidas para representar a
comunidade. De que maneira? Buscamos jurados de diversos bairros de Curitiba,
de diversas profissões e também com grande espectro de idade. A composição é
heterogênea, pois os jurados decidem sobre o fato e cabe ao Juiz fazer valer a
decisão dos jurados. A função é dinâmica, mas importante. Não se sabe o horário
que terminará um júri e nem quantos dias poderão durar. Então, é ao mesmo tempo
uma função desgastante.
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UNICURITIBA Fala Direito: Qual foi a sua experiência mais desafiadora no
ambiente profissional?
Daniel:
Talvez tenha sido o julgamento de uma das rés de um caso que aconteceu em
Guaratuba. Este caso veio desaforado para Curitiba, o Júri durou 2 dias.
Anteriormente teria ocorrido esse mesmo julgamento em mais de 30 dias, salvo
engano 34 dias de julgamento, ficando conhecido como o júri mais longo da
história do Brasil. Talvez este tenha sido o júri mais impactante apesar de que
o júri é sempre uma fábrica de casos novos que acabam chamando atenção da
população.
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UNICURITIBA Fala Direito: Foi este o caso que ficou conhecido como “Bruxas de Guaratuba”? Inclusive, criaram um
podcast e o caso está prestes a ser transformado em seriado e em livro. Por
qual motivo a morte do menino Evandro no ano de 1992 ainda causa tanto
interesse?
Daniel: É uma boa
pergunta, não participei em nenhum momento deste Podcast feito apenas com o
material colhido, nunca fui ouvido acerca deste fato. Mas, acredito que
primeiro, tudo o que envolve o crime contra a vida, por si só, já chama atenção e o fato de ter acontecido com
pessoas supostamente (não estou dizendo que tenha sido praticado efetivamente, estou
relatando apenas o que consta no processo) filhas e esposas de pessoas
importantes, bem como o fato de existir um plano de fundo que envolve bruxas e
magia negra, faz com que a mídia de certa forma venda o caso. Sabemos que esta venda acontece verdadeiramente, é
comum a situação da mídia nominar e identificar pessoas sob alguns aspectos e
isto é ruim ao júri, pois acaba criando um certo rótulo.
Quando se tem um plano de fundo assassinato ou
desaparecimentos de crianças, planos místicos e pessoas importantes é um “prato
cheio”. Talvez seja por isto que chame atenção.
Blog
UNICURITIBA Fala Direito: O Senhor foi, também, responsável por presidir o
julgamento do Ex-deputado Fernando Ribas Carli Filho. Quais os principais
desafios enfrentados neste caso? O Senhor esperava que houvesse tamanha
repercussão?
Daniel: Não, eu não
esperava porque existem inúmeros casos de crimes praticados no trânsito. Só que
a discussão de dolo eventual e culpa consciente é algo que faz
nascer paixões e desafios nos bancos acadêmicos e aqui no plenário do júri toma
uma dimensão maior e também pela figura pública do réu e pela participação um
pouco mais ativa dos familiares das vítimas.
Foi um Júri também desafiador talvez pela parte da
cobertura da imprensa. Salvo engano 28 veículos de comunicação quiseram
transmitir ao vivo o júri, alguns o fizeram. Então, veja que o juiz tem que se
desviar do processo para ficar pensando em problemas periféricos no júri como,
por exemplo, quantas pessoas poderão assistir, que tipo de veículos serão admitidos
e isto exige uma atitude do magistrado
um pouco diferenciada, pois me parece claro que o juiz não é feito para dar
entrevistas ou comentar casos, não é este o papel do juiz, mas ele tem o dever
de informar a sociedade sobre o andamento do feito. A sociedade é interessada
em saber se o processo está ou não andando corretamente, se não está, explicar
o motivo. Então este tipo de informação sobre o trâmite processual é uma
obrigação nossa diante da publicidade. O caso exigiu um pouco mais de mim ter
esse trato mais próximo da imprensa.
Blog
UNICURITIBA Fala Direito: Quais as aptidões e conhecimentos desenvolvidos no
curso de Direito que mais o ajudam na sua profissão atual?
Daniel: Saber o
direito é importante e essencial. Mas aqui no júri lidamos com os
grandes dramas do ser humano. Desde que a sociedade é sociedade, desde que
existimos, se pegarmos relatos bíblicos, já temos o homicídio entre nós. O
Direito ajuda a conhecer aquilo que é prefixado pelos adornos, o certo e errado
à luz de determinada ótica, mas os casos levados a Júri ensinam o que é a vida, como ela pode ser
traiçoeira, dinâmica e como a vida é feita de segundos e decisões que podem
implicar em você estar ou não sentado no banco do réu.
A faculdade me trouxe uma experiência e vivência
muito importante, pois desde a época dos bancos acadêmicos, fui estagiário na
2º Vara do Tribunal do Júri e ajudei a organizar júris simulados que até hoje
existem como forma de competição.
A faculdade me ensinou a entender o que é este
ambiente do Tribunal do Júri a qual hoje vivencio.
Blog
UNICURITIBA Fala Direito: Qual a lembrança mais marcante de seus tempos de
faculdade?
Daniel: Tínhamos um
grupo de amigos que me marcou bastante. Inclusive, muito são juízes, promotores
e excelentes advogados em Curitiba que se destacaram demais. Eu tive uma turma com quem realmente me dei muito bem, com todas as
amizades que criamos. Hoje encontro eles no Tribunal e nos bancos acadêmicos,
sou professor também. Tenho vários colegas que ministram aulas. Encontro nas
salas de professores e nas aulas de pós-graduação. Recentemente, estive
no Unicuritiba ministrando uma aula de penal e processo. É sempre
gostoso voltar a casa e dizer que passei por aqueles bancos acadêmicos. Alguns
professores ainda estão lá na faculdade, quando os encontro é muito bacana,
também. A amizade feita lá e o fato de ter vivenciado a parte do Diretório e da Atlética
me marcaram. Até hoje temos grupos do Whatsapp, um pouco
saudosista da época e até hoje o pessoal se encontra, trocam experiências,
combinam “Happy hour”, nem sempre conseguimos nos encontrar, mas é bom saber que as
pessoas estão por lá.
Blog
UNICURITIBA Fala Direito: Quais são os seus planos para o futuro?
Daniel: Não tenho
grandes planos para o futuro, sou feliz onde estou, profissionalmente falando.
Desde 2008 tenho orgulho de dizer que o Tribunal do Júri está em dia com sua
prestação jurisdicional. Tenho uma pauta de audiências que talvez seja meu maior
orgulho. Hoje temos quase 7.000 inquéritos em Curitiba em apenas 2 varas, é um
trabalho de formiguinha. Acho que fazer planos para o futuro deixo um pouco de
lado e quero viver bastante o presente, viver o dia-a-dia e ficar no Tribunal
do Júri enquanto eu estiver feliz e hoje estou.
Blog
UNICURITIBA Fala Direito: Deixe um
conselho para os nossos alunos.
Daniel: Aproveitem a faculdade na sua extensão. Uma boa
faculdade é feita de, claro, ser um bom aluno, mas também de interagir com os
professores e seus colegas. Acho que a faculdade não pode ser apenas um ponto
de encontro em que se deva passar algumas horas sentados.
Vivenciar o que estão proporcionando hoje, um Blog,
saber da história que a faculdade tem e saber que você faz parte desta história
e está construindo-a também, é importante. As relações que você está fazendo na
faculdade são coisas que você levará para o resto de sua vida.
Seja um bom aluno, e também seja um bom amigo. Não seja
apenas um bom estudante. Aproveite as oportunidades que a vida irá lhe oferecer.
Não feche portas, deixe sempre uma janelinha aberta para novas experiências. Vivenciem
o máximo possível a advocacia, a magistratura e o Ministério Público. Faça
estágios e se encontre profissionalmente. Entramos na faculdade muito cedo e
somos obrigados a direcionar a vida sem refletir. Então, só tem uma forma de
errar menos, que é experimentando. Não tenha medo de tomar outras decisões.
Permita-se experimentar outros ramos de Direito e lembre-se que acima de tudo somos feitos
para sermos felizes.
Caso você que está lendo esta entrevista ainda não
sabe o que quer direito da vida, saiba que existem inúmeros cursos e possibilidades.
Continue, experimente bastante e não tenha medo de dizer que, de repente, quer fazer
outra coisa, quer experimentar outra área do direito, não seja rotulado. Seja
um bom aluno, um bom amigo e um bom profissional naquilo que escolheu para você.
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