PROMOVENDO A SUSTENTABILIDADE: INTELIGÊNCIA COLETIVA E GOVERNANÇA LOCAL
– NOVOS MODELOS E ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO NO MUNICÍPIO
Maria da Glória Colucci
As
políticas macroeconômicas são insuficientes à promoção da qualidade de vida,
com sustentabilidade social. O Poder Público, isoladamente, não tem meios para
atender às urgências locais, uma vez que os atores das transformações deixaram
de ser os agentes que se encontram distantes, centralizados nos projetos
globais, para serem substituídos pelos que vivenciam as reais necessidades de
seu espaço local. 1
Desta
forma, a municipalização é a resposta à sustentabilidade, comportando a
interlocução de vários agentes e atores locais, que constroem laços de
interesses conjuntos representados pelo Estado, o mercado (empresas /
empresários) e a sociedade organizada, em razão da realidade de alta
complexidade que os envolve.
O
território, região, cidade, bairro, vila, comunidades etc, não devem ser vistos
como espaços de problemas, mas de “base” para a solução de problemas, posto que
é no território que se revela a criatividade, onde estão as inteligências e as
soluções são encontradas.
Numa
moderna sociedade de conhecimento, a inovação, a criatividade e a transformação
permitem mudanças estruturais, a partir da formação de novas mentalidades.
Assim, o lugar onde se pode dar vazão à inteligência coletiva é o espaço
geográfico (região) ou cultural (comunidade), onde os valores são construídos e
referendados pelas pessoas. Desta sorte, onde há confiança, convergência de
objetivos, pactos de realização e comunhão de interesses é que se desenvolvem
as lideranças e são ativadas novas soluções de forma criativa e sensível às
carências locais.
O desenvolvimento
se processa de forma contínua, crescente, gradativa, com base nas redes de
informação e conhecimento, representadas pela inclusão digital de novos grupos,
transformados pela visão de futuro. O desenvolvimento requer mudança social,
política e humana, porque nem sempre o PIB (Produto Interno Bruto) elevado é
sinônimo de qualidade de vida, mas, representa, na maioria dos países terceiromundistas,
apenas, crescimento econômico. O crescimento deve ser entendido como o caminho
para o desenvolvimento, se vier acompanhado de ações, atitudes e políticas que
transformem a quantidade em qualidade, mensurável pelo IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano).
A cultura
social da cooperação deve ser incentivada, levando o cidadão à participação, ao
envolvimento com os problemas locais e à busca de soluções criativas. As
cooperativas, por exemplo, representam um espaço onde a união, a convergência
de interesses e os objetivos comuns podem propiciar aos cooperados uma melhor
qualidade de vida:
O interesse pela comunidade é um princípio que remete
à consciência do cooperado com relação ao espaço em que vive. O local de onde
sai e para onde volta. O desenvolvimento e a dignidade do local em que vive em
seus descendentes vivem a preocupação da melhoria com o espaço público. 2
Causa
espanto que a economia diversificada do século XXI, que se encontra em plena
expansão no Brasil, não se coadune com os modelos de política retrógrada do
século XIX, mas, mesmo assim, permanece “intocável”, ano após ano, com os
“mesmos” “caciques” e “coronéis” do passado. Enquanto esta prática política,
lastreada em “favores” e “benesses” eleitoreiras não for desarraigada e uma
nova mentalidade substituir os “favores” pelos “projetos” sérios, construídos
pelos cidadãos e os governantes, não se impuser, a realidade brasileira
continuará sempre escrava da corrupção e dos conchavos e apadrinhamentos dos
maus políticos.
As
iniciativas locais, com base no Município, devem ter como pontos básicos de
ação os seguintes aspectos: a) mobilização dos atores locais; b) atividade
proativa dos governos locais em direção ao estabelecimento de diálogos
produtivos com os munícipes; c) políticas públicas que visem o fomento de
lideranças locais, nas Igrejas, nas escolas, nas empresas, etc.
O ponto de
partida para uma agenda estratégica é sempre a formação de líderes
inspiradores, que motivem os liderados à participação, assumindo a
responsabilidade social no local onde vivem e constroem sua vida. São as
pessoas que promovem o desenvolvimento do Município, são os munícipes principais atores para a transformação dos modelos
mentais retrógrados! Os recursos sem governança, sem projetos pactuados em
interesses coletivos, de nada valem, porque “dinheiro não tem ideias”, pessoas
é que têm ideias! Pessoas com competências cognitivas e criatividade têm poder
de mudança e os “sonhos” podem se concretizar, como acontece com os ativos
sociais, que representam a “economia criativa”, cujas estratégias são aptas ao
enfrentamento de problemas locais, com “soluções locais”.
A
denominada “sociedade da informação ou do conhecimento” possui direta relação
com o desenvolvimento e crescimento de um Estado, uma vez que o acesso dos
cidadãos aos benefícios da informação, mediante a educação digital, refletirá
sobre o IDH desta sociedade. Já o crescimento econômico é acelerado pelos
investimentos efetivados pelos governos em indústrias e agronegócios;
ocasionando a aceleração da automação e mecanização das lavouras, por exemplo.
Destacando
os reflexos da forma como os governos e Estados se conectam à sociedade da
informação, Paulo Cezar Alves Sodré assim analisa os efeitos daí decorrentes:
Embora não caiba aos governos e estados a criação da
tecnologia, a maneira como eles reagem ou interagem com a tecnologia será de
fundamental importância para a inclusão ou exclusão de uma dada sociedade no
atual mundo competitivo, marcado pela existência de avançadas tecnologias. 3
De tal forma a participação
estratégica dos governos e organizações, como a ONU (Organização das Nações
Unidas), é decisiva para o desenvolvimento dos povos, que já foram realizadas
em Genebra (2003) e Tunis (2005), duas importantes cúpulas com a finalidade de
incentivar os governos à elaboração de políticas públicas de inclusão digital
dos seus cidadãos 4 e crescimento de suas economias.
Entende-se,
hoje, mais do que nunca, que o primeiro passo para o crescimento econômico é o
investimento em educação e formação de pessoas, uma vez que se forem
priorizados os aspectos sociais, políticos e humanos, os resultados econômicos
serão meras consequências. Business intelligence
é o novo direcionamento das modernas sociedades globalizadas e
informatizadas, posto que investir em pessoas é que representa o verdadeiro
desenvolvimento.
Neste contexto, sobreleva o papel
dos Municípios, uma vez que a formação das lideranças locais, somada à educação
das camadas mais carentes da população e às políticas públicas em áreas de
saúde, trabalho, saneamento básico e urbanização darão aos Municípios um IDH de
países desenvolvidos.
REFERÊNCIAS
1 Texto elaborado a partir de
palestras e debates desenvolvidos no 6º Congresso Nós Podemos Paraná, realizado
na FIEP, em 03/12/2013, em Curitiba.
2 OPUSZKA, Paulo Ricardo. Cooperativismo popular: análise
jurídica e econômica. Curitiba: Juruá, 2012, p. 60.
3 SODRÉ, Paulo Cezar Alves. O processo judicial eletrônico:
reflexos e consequências da sociedade da informação na administração do Poder
Judiciário. In: Direito e
Desenvolvimento: biomedicina, tecnologia e sociedade globalizada. Coord.
Jussara Maria Leal de Meirelles, Marcia Carla Pereira Ribeiro. Belo Horizonte:
Fórum, 2011, p. 332.
4 Idem, p. 333. Refere-se o autor à
Cúpula Mundial da Sociedade da Informação (2003 / 2005).
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