24/02/2014

PROMOVENDO A SUSTENTABILIDADE: INTELIGÊNCIA COLETIVA E GOVERNANÇA LOCAL – NOVOS MODELOS E ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO NO MUNICÍPIO

PROMOVENDO A SUSTENTABILIDADE: INTELIGÊNCIA COLETIVA E GOVERNANÇA LOCAL – NOVOS MODELOS E ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO NO MUNICÍPIO

Maria da Glória Colucci

            As políticas macroeconômicas são insuficientes à promoção da qualidade de vida, com sustentabilidade social. O Poder Público, isoladamente, não tem meios para atender às urgências locais, uma vez que os atores das transformações deixaram de ser os agentes que se encontram distantes, centralizados nos projetos globais, para serem substituídos pelos que vivenciam as reais necessidades de seu espaço local. 1
            Desta forma, a municipalização é a resposta à sustentabilidade, comportando a interlocução de vários agentes e atores locais, que constroem laços de interesses conjuntos representados pelo Estado, o mercado (empresas / empresários) e a sociedade organizada, em razão da realidade de alta complexidade que os envolve.
            O território, região, cidade, bairro, vila, comunidades etc, não devem ser vistos como espaços de problemas, mas de “base” para a solução de problemas, posto que é no território que se revela a criatividade, onde estão as inteligências e as soluções são encontradas.
            Numa moderna sociedade de conhecimento, a inovação, a criatividade e a transformação permitem mudanças estruturais, a partir da formação de novas mentalidades. Assim, o lugar onde se pode dar vazão à inteligência coletiva é o espaço geográfico (região) ou cultural (comunidade), onde os valores são construídos e referendados pelas pessoas. Desta sorte, onde há confiança, convergência de objetivos, pactos de realização e comunhão de interesses é que se desenvolvem as lideranças e são ativadas novas soluções de forma criativa e sensível às carências locais.
            O desenvolvimento se processa de forma contínua, crescente, gradativa, com base nas redes de informação e conhecimento, representadas pela inclusão digital de novos grupos, transformados pela visão de futuro. O desenvolvimento requer mudança social, política e humana, porque nem sempre o PIB (Produto Interno Bruto) elevado é sinônimo de qualidade de vida, mas, representa, na maioria dos países terceiromundistas, apenas, crescimento econômico. O crescimento deve ser entendido como o caminho para o desenvolvimento, se vier acompanhado de ações, atitudes e políticas que transformem a quantidade em qualidade, mensurável pelo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
            A cultura social da cooperação deve ser incentivada, levando o cidadão à participação, ao envolvimento com os problemas locais e à busca de soluções criativas. As cooperativas, por exemplo, representam um espaço onde a união, a convergência de interesses e os objetivos comuns podem propiciar aos cooperados uma melhor qualidade de vida:

O interesse pela comunidade é um princípio que remete à consciência do cooperado com relação ao espaço em que vive. O local de onde sai e para onde volta. O desenvolvimento e a dignidade do local em que vive em seus descendentes vivem a preocupação da melhoria com o espaço público. 2

            Causa espanto que a economia diversificada do século XXI, que se encontra em plena expansão no Brasil, não se coadune com os modelos de política retrógrada do século XIX, mas, mesmo assim, permanece “intocável”, ano após ano, com os “mesmos” “caciques” e “coronéis” do passado. Enquanto esta prática política, lastreada em “favores” e “benesses” eleitoreiras não for desarraigada e uma nova mentalidade substituir os “favores” pelos “projetos” sérios, construídos pelos cidadãos e os governantes, não se impuser, a realidade brasileira continuará sempre escrava da corrupção e dos conchavos e apadrinhamentos dos maus políticos.
            As iniciativas locais, com base no Município, devem ter como pontos básicos de ação os seguintes aspectos: a) mobilização dos atores locais; b) atividade proativa dos governos locais em direção ao estabelecimento de diálogos produtivos com os munícipes; c) políticas públicas que visem o fomento de lideranças locais, nas Igrejas, nas escolas, nas empresas, etc.
            O ponto de partida para uma agenda estratégica é sempre a formação de líderes inspiradores, que motivem os liderados à participação, assumindo a responsabilidade social no local onde vivem e constroem sua vida. São as pessoas que promovem o desenvolvimento do Município, são os munícipes principais atores para a transformação dos modelos mentais retrógrados! Os recursos sem governança, sem projetos pactuados em interesses coletivos, de nada valem, porque “dinheiro não tem ideias”, pessoas é que têm ideias! Pessoas com competências cognitivas e criatividade têm poder de mudança e os “sonhos” podem se concretizar, como acontece com os ativos sociais, que representam a “economia criativa”, cujas estratégias são aptas ao enfrentamento de problemas locais, com “soluções locais”.
            A denominada “sociedade da informação ou do conhecimento” possui direta relação com o desenvolvimento e crescimento de um Estado, uma vez que o acesso dos cidadãos aos benefícios da informação, mediante a educação digital, refletirá sobre o IDH desta sociedade. Já o crescimento econômico é acelerado pelos investimentos efetivados pelos governos em indústrias e agronegócios; ocasionando a aceleração da automação e mecanização das lavouras, por exemplo.
            Destacando os reflexos da forma como os governos e Estados se conectam à sociedade da informação, Paulo Cezar Alves Sodré assim analisa os efeitos daí decorrentes:

Embora não caiba aos governos e estados a criação da tecnologia, a maneira como eles reagem ou interagem com a tecnologia será de fundamental importância para a inclusão ou exclusão de uma dada sociedade no atual mundo competitivo, marcado pela existência de avançadas tecnologias. 3

De tal forma a participação estratégica dos governos e organizações, como a ONU (Organização das Nações Unidas), é decisiva para o desenvolvimento dos povos, que já foram realizadas em Genebra (2003) e Tunis (2005), duas importantes cúpulas com a finalidade de incentivar os governos à elaboração de políticas públicas de inclusão digital dos seus cidadãos 4 e crescimento de suas economias.
            Entende-se, hoje, mais do que nunca, que o primeiro passo para o crescimento econômico é o investimento em educação e formação de pessoas, uma vez que se forem priorizados os aspectos sociais, políticos e humanos, os resultados econômicos serão meras consequências. Business intelligence é o novo direcionamento das modernas sociedades globalizadas e informatizadas, posto que investir em pessoas é que representa o verdadeiro desenvolvimento.
Neste contexto, sobreleva o papel dos Municípios, uma vez que a formação das lideranças locais, somada à educação das camadas mais carentes da população e às políticas públicas em áreas de saúde, trabalho, saneamento básico e urbanização darão aos Municípios um IDH de países desenvolvidos.

REFERÊNCIAS

1 Texto elaborado a partir de palestras e debates desenvolvidos no 6º Congresso Nós Podemos Paraná, realizado na FIEP, em 03/12/2013, em Curitiba.
2 OPUSZKA, Paulo Ricardo. Cooperativismo popular: análise jurídica e econômica. Curitiba: Juruá, 2012, p. 60.
3 SODRÉ, Paulo Cezar Alves. O processo judicial eletrônico: reflexos e consequências da sociedade da informação na administração do Poder Judiciário. In: Direito e Desenvolvimento: biomedicina, tecnologia e sociedade globalizada. Coord. Jussara Maria Leal de Meirelles, Marcia Carla Pereira Ribeiro. Belo Horizonte: Fórum, 2011, p. 332.

4 Idem, p. 333. Refere-se o autor à Cúpula Mundial da Sociedade da Informação (2003 / 2005).

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