02/07/2019

Mulheres de Destaque: Conheça Márcia Braga, a brasileira que recebeu prêmio da ONU por sua atuação na defesa da igualdade de gênero





Marcia Andrade Braga. Mulher. Brasileira. Formada em Análise de Sistemas. Militar da Marinha Brasileira há 18 anos. O que fez com que a capitão de corveta brasileira recebesse o prêmio de Defensora Militar da Igualdade de Gênero da ONU[1] em março de 2019 em Nova Iorque? 

Membro da Missão de Paz das Nações Unidas na República Centro-Africana (MINUSCA) desde abril de 2018, Marcia ajudou a construir uma rede de assessores treinados para questões de gênero dentro das unidades militares da missão, promovendo equipes formadas tanto por homens como por mulheres para conduzir patrulhas pelo país.

Com um plano audacioso, formou equipes de engajamento, que reuniram informações necessárias para ajudar a entender as necessidades de proteção de homens, mulheres, meninos e meninas. Além disso, ajudaram a desenvolver projetos para o apoio de comunidades vulneráveis, através da instalação de bombas de águas próximas aos vilarejos, sistemas de energia solar e jardins comunitários.

Em entrevista à ONU, a militar afirmou que embora não haja um grupo homogêneo nas missões, foi possível começar a entender a rotina dos homens, mulheres, meninas e meninos, qual área é a mais sensível para cada um deles e onde as violações ocorrem. Com isso, é possível realizar um melhor planejamento militar a fim de prevenir tais violações.

Além disso, sua participação em missões de paz foi essencial para a facilitação das denuncias de casos de violências e abusos sexuais contra mulheres e meninas, tendo em vista que a participação de mulheres nas forças de paz aumenta a abertura para o diálogo. Defensora da presença feminina nas missões de paz, Marcia acredita que mulheres podem se comunicar com as populações locais de forma mais humanizada e menos agressiva, o que facilita um melhor mapeamento nas necessidades locais.
           
Segundo a capitão, o brasileiro tem um jeito especial de fazer peacekeeping[2], com paixão e compaixão, além da bandeira feminina gerar alegria por onde passa. Ainda, as militares femininas têm muito comprometimento e trabalham duro, sendo muito engajadas com a comunidade e sensibilizadas com o problema, tendo total condição de assumir uma missão, de ir até o fim, e de ser muito bem-sucedida. Também, para ela, é muito importante ouvir as mulheres, em especial as líderes locais, porque elas são muito mais comprometidas com o processo de paz e possuem informações  extremamente preciosas para a proteção dos civis.

De acordo com a militar da marinha, o período na MINUSCA foi o mais enriquecedor da vida dela e a experiência foi muito enriquecedora e, por isso, pretende continuar colaborando mesmo agora fora da missão. Dentre seus planos, está dar o treinamento para militares que serão empregados em missões de paz, para aumentar a conscientização, principalmente voltada para a proteção de civis, empregando a perspectiva de gênero, para que o plano de ação idealizado por ela não se encerre.

Segundo a ONU, Márcia Braga foi “uma força motriz por trás do envolvimento da liderança da missão com mulheres líderes locais, assegurando que a voz de mulheres centro-africanas seja ouvida no processo de paz em curso”.

Em conversa com Giovanna Maciel, membro da Equipe do Blog Unicuritiba Fala Direito, durante o III Encontro Anual da Rede Brasileira de Pesquisa sobre Operações de Paz (REBRAPAZ)[3], Marcia afirmou, sobre sua carreira:

Fazer parte da Marinha, na verdade, foi uma opção. Eu tinha feito faculdade de Análise de Sistemas e ai eu vi que abria vaga para a Marinha, então eu fiz o concurso e ingressei na Marinha como Primeiro Tenente. No início da minha carreira eu fiquei mais na parte técnica e depois eu fui entrando na parte operativa. Então assim, o que eu achei bem legal foi essa postura da Marinha, porque em que pese a minha formação ser em tecnologia, eu acabei me envolvendo em várias tarefas ligadas até ao controle de tráfego marinho, que é uma parte muito estratégica da marinha e isso me ajudou muito inclusive depois na atividade na República Centro-Africana.
          Ainda, comentou um pouco sobre as consequências de ser uma mulher em uma missão de paz:
Bom, em relação à missão na República Centro-Africana e o fato de eu ser mulher, eu não tenho nenhuma dificuldade que eu fale pelo fato de ser mulher. As dificuldades que eu tive foram as mesmas dificuldades que os peacekeeper homens enfrentaram. Então assim, dificuldades logísticas, muitas vezes você não tinha voo, não tinha carro – eu tirei o que a gente chama de carteira de motorista da ONU, que é um cartão que você passa para poder conduzir, mas eu não tive carro, então eu fiquei muito tempo assim, dependendo de alguém –, que foi o mesmo problema que os peacekeeper homens brasileiros tiveram. A questão mesmo de onde morar, a questão de, às vezes, para comprar alguma coisa, a questão mesmo logística, sair do país... não era todo dia que tinha o voo para sair... Então, enfim, o que eu posso dizer que esses problemas não foram específicos  por eu ser mulher, os problemas que eu vi, no geral, eram os mesmos problemas que todos enfrentavam, nada específico. Inclusive eu acredito que até ajudou um pouco o fato de ser mulher. São duas coisas que ajudaram muito que eu vi: a bandeira do Brasil, que abre portas, e o fato de ser mulher, que trazia muita empatia da população local. Por isso eu consegui entender melhor o que estava ali acontecendo em relação ao conflito.
          A lição que Marcia Braga deixa é: se voluntarie como uma garota. Ajude populações como uma garota. Seja internacionalmente reconhecida como uma garota!

Nota: para mais informações a respeito das missões de paz acesse: https://nacoesunidas.org/tema/forcasdepaz/.


Referências:
CAPITAO de Corveta Marcia Andrade Braga é premiada pela ONU por defender igualdade de gênero. Marinha do Brasil. 08 abr. 2019. Disponível em: <https://www.marinha.mil.br/noticias/capitao-de-corveta-marcia-andrade-braga-e-premiada-pela-onu-por-defender-igualdade-de>.
FORÇAS Armadas comemoram prêmio da ONU sobre igualdade de gênero para militar brasileira. Nações Unidas Brasil. 29 mar. 2019. Disponível em: < https://nacoesunidas.org/forcas-armadas-comemoram-premio-da-onu-sobre-igualdade-de-genero-para-militar-brasileira/>.
MILITAR brasileira premiada na ONU conta sua trajetória. ONU News. 29 mar. 2019. Disponível em: <https://news.un.org/pt/interview/2019/03/1666351>.
MILITAR brasileira recebe prêmio da ONU por defender igualdade de gênero. Nações Unidas Brasil. 27 mar. 2019. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/militar-brasileira-recebe-premio-da-onu-por-defender-igualdade-de-genero/>.
PERSPECTIVA de gênero nas missões de paz da ONU. ONU News. 18 jun. 2019. Disponível em: <https://news.un.org/pt/interview/2019/06/1676831>.


[1] Criada em 2016, a homenagem reconhece a dedicação e os esforços de membros das forças de membros das forças de faz na promoção dos princípios da Resolução 1325 do Conselho de Segurança sobre Mulheres, Paz e Segurança.
[2] Peacekeeper significa “pacificadores” e é realizado por homens e mulheres preparados para realizar trabalho em condições extremamente adversas e desafiadoras. Atualmente, a manutenção da paz da ONU emprega mais de 100 mil militares, policiais e civis em 14 operações de manutenção da paz em quatro continentes. O Brasil participa de 8 delas, com 300 capacetes azuis, sempre em contribuição aos esforços da ONU em promover a proteção de civis e manter a paz no mundo.
[3] Realizado em 28 jun. 2019, na sede do Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), no Rio de Janeiro.

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