Marcia Andrade Braga. Mulher. Brasileira. Formada em Análise de
Sistemas. Militar da Marinha Brasileira há 18 anos. O que fez com que a capitão
de corveta brasileira recebesse o prêmio de Defensora Militar da Igualdade de
Gênero da ONU[1]
em março de 2019 em Nova Iorque?
Membro da Missão de Paz das Nações Unidas na República Centro-Africana
(MINUSCA) desde abril de 2018, Marcia ajudou a construir uma rede de assessores
treinados para questões de gênero dentro das unidades militares da missão,
promovendo equipes formadas tanto por homens como por mulheres para conduzir
patrulhas pelo país.
Com um plano audacioso, formou equipes de engajamento, que reuniram
informações necessárias para ajudar a entender as necessidades de proteção de
homens, mulheres, meninos e meninas. Além disso, ajudaram a desenvolver
projetos para o apoio de comunidades vulneráveis, através da instalação de
bombas de águas próximas aos vilarejos, sistemas de energia solar e jardins
comunitários.
Em entrevista à ONU, a militar afirmou que embora não haja um grupo
homogêneo nas missões, foi possível começar a entender a rotina dos homens,
mulheres, meninas e meninos, qual área é a mais sensível para cada um deles e
onde as violações ocorrem. Com isso, é possível realizar um melhor planejamento
militar a fim de prevenir tais violações.
Além disso, sua participação em missões de paz foi essencial para a
facilitação das denuncias de casos de violências e abusos sexuais contra
mulheres e meninas, tendo em vista que a participação de mulheres nas forças de
paz aumenta a abertura para o diálogo. Defensora da presença feminina nas
missões de paz, Marcia acredita que mulheres podem se comunicar com as
populações locais de forma mais humanizada e menos agressiva, o que facilita um
melhor mapeamento nas necessidades locais.
Segundo a capitão, o brasileiro tem um
jeito especial de fazer peacekeeping[2],
com paixão e compaixão, além da bandeira feminina gerar alegria por onde passa.
Ainda, as militares femininas têm muito comprometimento e trabalham duro, sendo
muito engajadas com a comunidade e sensibilizadas com o problema, tendo total
condição de assumir uma missão, de ir até o fim, e de ser muito bem-sucedida.
Também, para ela, é muito importante ouvir as mulheres, em especial as líderes
locais, porque elas são muito mais comprometidas com o processo de paz e
possuem informações extremamente
preciosas para a proteção dos civis.
De acordo com a militar da marinha, o período na MINUSCA foi o mais
enriquecedor da vida dela e a experiência foi muito enriquecedora e, por isso,
pretende continuar colaborando mesmo agora fora da missão. Dentre seus planos,
está dar o treinamento para militares que serão empregados em missões de paz,
para aumentar a conscientização, principalmente voltada para a proteção de
civis, empregando a perspectiva de gênero, para que o plano de ação idealizado
por ela não se encerre.
Segundo a ONU, Márcia Braga foi “uma força motriz por trás do
envolvimento da liderança da missão com mulheres líderes locais, assegurando
que a voz de mulheres centro-africanas seja ouvida no processo de paz em
curso”.
Em conversa com Giovanna Maciel, membro da Equipe do Blog
Unicuritiba Fala Direito, durante o III Encontro Anual da Rede Brasileira de
Pesquisa sobre Operações de Paz (REBRAPAZ)[3], Marcia afirmou, sobre sua
carreira:
Fazer parte da Marinha, na verdade, foi uma
opção. Eu tinha feito faculdade de Análise de Sistemas e ai eu vi que abria
vaga para a Marinha, então eu fiz o concurso e ingressei na Marinha como
Primeiro Tenente. No início da minha carreira eu fiquei mais na parte técnica e
depois eu fui entrando na parte operativa. Então assim, o que eu achei bem
legal foi essa postura da Marinha, porque em que pese a minha formação ser em
tecnologia, eu acabei me envolvendo em várias tarefas ligadas até ao controle
de tráfego marinho, que é uma parte muito estratégica da marinha e isso me
ajudou muito inclusive depois na atividade na República Centro-Africana.
Ainda, comentou um pouco sobre as
consequências de ser uma mulher em uma missão de paz:
Bom, em relação à missão na República
Centro-Africana e o fato de eu ser mulher, eu não tenho nenhuma dificuldade que
eu fale pelo fato de ser mulher. As dificuldades que eu tive foram as mesmas
dificuldades que os peacekeeper homens enfrentaram. Então assim, dificuldades
logísticas, muitas vezes você não tinha voo, não tinha carro – eu tirei o que a
gente chama de carteira de motorista da ONU, que é um cartão que você passa
para poder conduzir, mas eu não tive carro, então eu fiquei muito tempo assim,
dependendo de alguém –, que foi o mesmo problema que os peacekeeper homens
brasileiros tiveram. A questão mesmo de onde morar, a questão de, às vezes,
para comprar alguma coisa, a questão mesmo logística, sair do país... não era
todo dia que tinha o voo para sair... Então, enfim, o que eu posso dizer que
esses problemas não foram específicos
por eu ser mulher, os problemas que eu vi, no geral, eram os mesmos
problemas que todos enfrentavam, nada específico. Inclusive eu acredito que até
ajudou um pouco o fato de ser mulher. São duas coisas que ajudaram muito que eu
vi: a bandeira do Brasil, que abre portas, e o fato de ser mulher, que trazia
muita empatia da população local. Por isso eu consegui entender melhor o que
estava ali acontecendo em relação ao conflito.
A lição que Marcia Braga deixa é: se
voluntarie como uma garota. Ajude populações como uma garota. Seja
internacionalmente reconhecida como uma garota!
Nota: para mais informações a respeito das
missões de paz acesse: https://nacoesunidas.org/tema/forcasdepaz/.
Referências:
CAPITAO de Corveta
Marcia Andrade Braga é premiada pela ONU por defender igualdade de gênero. Marinha do Brasil. 08 abr. 2019.
Disponível em: <https://www.marinha.mil.br/noticias/capitao-de-corveta-marcia-andrade-braga-e-premiada-pela-onu-por-defender-igualdade-de>.
FORÇAS Armadas
comemoram prêmio da ONU sobre igualdade de gênero para militar brasileira. Nações Unidas Brasil. 29 mar. 2019.
Disponível em: < https://nacoesunidas.org/forcas-armadas-comemoram-premio-da-onu-sobre-igualdade-de-genero-para-militar-brasileira/>.
MILITAR brasileira
premiada na ONU conta sua trajetória. ONU
News. 29 mar. 2019. Disponível em: <https://news.un.org/pt/interview/2019/03/1666351>.
MILITAR brasileira
recebe prêmio da ONU por defender igualdade de gênero. Nações Unidas Brasil. 27 mar. 2019. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/militar-brasileira-recebe-premio-da-onu-por-defender-igualdade-de-genero/>.
PERSPECTIVA de gênero nas
missões de paz da ONU. ONU News. 18
jun. 2019. Disponível em: <https://news.un.org/pt/interview/2019/06/1676831>.
[1]
Criada em 2016, a homenagem reconhece a dedicação e os esforços de membros das
forças de membros das forças de faz na promoção dos princípios da Resolução
1325 do Conselho de Segurança sobre Mulheres, Paz e Segurança.
[2]
Peacekeeper significa “pacificadores”
e é realizado por homens e mulheres preparados para realizar trabalho em
condições extremamente adversas e desafiadoras. Atualmente, a manutenção da paz da ONU
emprega mais de 100 mil militares, policiais e civis em 14 operações de
manutenção da paz em quatro continentes. O Brasil participa de 8 delas,
com 300 capacetes azuis, sempre em contribuição aos esforços da ONU em promover
a proteção de civis e manter a paz no mundo.
[3]
Realizado em 28 jun. 2019, na sede do Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil
(CCOPAB), no Rio de Janeiro.
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