Foto: Acadêmica de Direito, Giovanna Maciel recebeu menção honrosa no SIMUNI
Giovanna Maciel está no nono período de Direito e integra o Projeto do Blog UNICURITIBA Fala Direito. Ela se inscreveu para participar do SIMUNI, evento de Simulação das Nações Unidas organizado pelo curso de Relações Internacionais - e foi destaque em seu Comitê.
Ela conta um pouquinho da sua experiência para nós, do Blog UNICURITIBA Fala Direito, destacando o quanto o evento pode ser interessante também para acadêmicos do Direito.
Confira
MINHA EXPERIÊNCIA NO SIMUNI
Por: Giovanna Maciel
O QUE É SIMUNI?
Antes de
contar como foi a minha experiência no evento, é preciso explicar o que
realmente é o SIMUNI, visto que muitos estudantes de Direito não têm muito
conhecimento acerca dos eventos de Relações Internacionais.
Bom, o SIMUNI
é uma simulação das negociações do Sistema ONU e, segundo a Profª Patricia
Tendolini Oliveira, coordenadora do curso de Relações Internacionais: “O SIMUNI propicia aos participantes a vivência das Relações
Internacionais, cabendo a eles exercer sua capacidade de negociação e
diplomacia, e a aplicação de conhecimentos de Política Internacional, Direitos
Humanos, Economia Internacional, entre outros”.
Esse
ano foi realizada a 2ª edição do SIMUNI, entre os dias 16 a 18 de maio, e
reuniu cerca de cem participantes, entre alunos do Ensino Médio e Superior, divididos
em 4 Comitês simultâneos – o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) e o
Conselho Econômico e Social (ECOSOC) para os alunos do Superior; e o Conselho
de Direitos Humanos (CDH) e o Comitê Histórico, para os alunos do Ensino Médio.
Dentre
os temas abordados nessa edição, estão: Crise do Iêmen (CSNU), participação
das empresas e da sociedade civil organizada no fomento à igualdade de gênero
como forma de alcançar o Desenvolvimento Sustentável (ECOSOC), refúgio na atualidade
(CDH) e a guerra do Golfo em 1990 (Comitê Histórico).
MINHA EXPERIÊNCIA
Confesso que
me inscrevi meio despretensiosa, sem saber muito bem o que era e como
funcionava, mas acabei me surpreendendo positivamente frente à experiência.
Uma semana
antes do evento, recebi um e-mail informando qual seria minha delegação e com o
Manual do II SIMUNI. Fui selecionada para fazer parte do ECOSOC, representando
a delegação da Bósnia e Herzegovina e, ainda, teria que fazer o Documento de
Posição Oficial (DPO), com informações específicas acerca do país e a relação
com o tema a ser discutido. Ok, então eu precisava fazer um documento que eu
nunca vi na vida, sobre um país que pouco se comenta e que, embora possua três
idiomas oficiais, nenhum deles é o inglês, muito menos português? Achar
referências parecia impossível – obrigada Google Notícias pela ajuda! Confesso
que me senti um pouco mais confortável quando divulgaram quais eram as outras delegações
(Bósnia Herzegovina; Emirados
Árabes Unidos; Federação Russa; Reino da Noruega; República
Bolivariana da Venezuela; República da Coreia; República da Turquia; República do Chade; República Federativa do
Brasil; República Islâmica do Paquistão; República Popular da China; República
Socialista do Vietnã). Estava difícil para mim, mas eu não
era a única.
Na sessão de abertura, contamos
com a palestra de Rodrigo Reis, fundador do Instituto Global Attitude (GAL) e
dono de um extenso currículo relacionado a ações junto à ONU, em especial
relacionado ao fomento da juventude na Organização Internacional. Como se não
bastasse o simples fato de uma pessoa tão importante estar ali, ele deu uma
verdadeira aula a respeito da evolução do Sistema ONU, retomando pontos
importantes da história e levantando polêmicas envolvendo Organização.
Finalizada a
palestra, cada Comitê foi direcionado para uma sala, na qual foram nos passadas
as informações necessárias para as sessões de debate que se realizaram no
próximo dia. Pois bem: direitos e deveres das delegações e delegados, deveres
da mesa diretiva, regras dos debates, lista de oradores, discurso, questões
procedimentais, inúmeras possibilidades de moções, elaboração de resolução,
discussão sobre agenda, documento de posição oficial... Bateu o desespero! Como
se não bastasse, fizemos um treinamento com um tema geral (“Por que ‘Friends’ é a melhor série da atualidade?”), para
aprendermos as noções básicas dos debates. Nesse momento só conseguia pensar “o
que eu estou fazendo aqui?”. Me senti deslocada, sem saber o que e como falar
até conseguir, aos poucos, entender os procedimentos e me soltar para o debate.
No dia
seguinte, iniciamos a sessão às 13h30 e, conforme o cronograma, passamos à
leitura dos DPOs de cada delegação e, depois, para os debates. Mais uma vez, me
senti um pouco deslocada, sem saber o que fazer, mas, graças ao apoio da Mesa
Diretiva – obrigada Brenda e Mari – e a Coach (Profª Priscila Caneparo), as
discussões foram tomando forma. Quando dei por mim, já estava falando,
mostrando o posicionamento da minha delegação, questionando ações das demais
delegações e, inclusive, propondo soluções para os problemas. Tudo isso sem
gaguejar, tremer a voz, ficar vermelha ou ter vontade de sair correndo – logo
eu, que embora esteja no final do curso de Direito, sempre tive pavor de falar
em público.
Entre debates
oficiais, moderados e não-moderados, demonstrações de apoio e de repúdio, coffee break, composição e recomposição
da agenda, finalizamos o segundo dia cansados, mas com propostas efetivas e
possíveis, de acordo com a realidade de cada Estado, para o fomento à empresas
e sociedades civis a fim de cumprir a 5ª ODS (igualdade de gênero).
No sábado,
último dia do evento, a missão foi um pouco mais difícil: sintetizar todas as
propostas, achar um consenso quanto a aplicabilidade delas, escrever uma
resolução e, ao final, defendê-las frente à possíveis dúvidas. Ai, a coisa
ficou complicada! Foi o único momento em que tivemos realmente desavenças
dentro do Comitê; cada um queria fazer de um jeito, incluir cláusulas, retirar
cláusulas; cláusula de boicote/reserva; tempo curto, Mesa Diretiva cobrando a
entrega... Enfim, entregamos a Resolução no último minuto possível, ainda com
desavenças, as quais foram expostas no momento da defesa.
A questão é:
eu era uma das únicas acadêmicas de Direito, em meio a inúmeros de Relações
Internacionais. De certo modo, a maioria ali tinha um conhecimento mais elevado
sobre a diplomacia e sobre as Resoluções. Além disso, alguns já tinham
participado de simulações anteriormente e, além do conhecimento do que o curso
proporciona, tinham a vivência. Entretanto, ainda que tenha me sentido
deslocada a princípio, fui acolhida e consegui não só apresentar as minhas
ideias e propostas, mas levantar questionamentos e, ao final, ser reconhecida
por isso.
Antes do
encerramento do II SIMUNI, os outros delegados e delegadas vieram conversar
comigo, elogiaram minha postura e atuação, surpreendidos por ter sido minha
primeira Simulação. Confesso que não esperava por isso e fiquei surpresa pela
receptividade e companheirismo ali existente. Já no fim, enquanto a Profª.
Patrícia anunciava os destaques de cada comitê para o recebimento do
certificado de Menção Honrosa, ouvi meu nome. Recebi aquele certificado como um
presente, uma conquista não apenas acadêmica, mas pessoal, por ter conseguido
me expressar de tal maneira a ser reconhecida, mesmo com o meu histórico de
pavor em falar em público (e sem brigar com ninguém, o que é um pouco
difícil para um estudante de Direito!).
Como dito ao
começo, me surpreendi positivamente com todo o evento, desde a organização,
condução dos debates (tanto pela Mesa Diretiva, como pelos Delegados) e,
principalmente, pelos temas levantados que são de extrema relevância. Ainda que
a inscrição tenha sido despretensiosa, o resultado pessoal foi incrível e
indescritível!
RELEVÂNCIA PARA O
DIREITO
Embora tenha
sido elaborado pelo curso de Relações Internacionais, o SIMUNI é aberto à toda
população acadêmica e tem, sem dúvidas, muita relação com o Direito.
Logo de
início, temos o Direito Internacional, o qual leciona, entre outras coisas, o
Sistema ONU – como surgiu, qual a evolução, como funciona... Sem dúvidas
colocar esses ensinamentos em prática ajuda muito no aprendizado, mesmo para
quem não tem pretensão na carreira diplomática.
Além disso,
os debates funcionam de forma muito similar aos debates jurídicos,
principalmente em audiências de instrução, quando cada um tem seu momento de
fala, devendo expor as dificuldades e propostas a fim de chegar na melhor
solução da lide. Também, o poder da fala, a forma de colocar cada ideia, sem
que seja ofensiva, mas que, ao mesmo tempo, seja capaz de convencer os ouvintes
sobre a relevância da sua palavra.
Finalmente: a
resolução. Embora as resoluções do ECOSOC não possuam poder vinculativo, se
parecem muito com leis e decretos. Institutos que, nós, do Direito, nos
deparamos todos os dias. Desta forma, participar da elaboração do documento
final, auxilia não apenas para entender como funcionam as normativas
internacionais, mas também as internas, visto que, embora o texto tenha sido
realizado com a colaboração de todos os presentes, ainda assim precisa passar
por votação e precisa ter escrita clara, compreensível também por quem não
passou pelo processo de elaboração.
Diante de tudo isso, dos
aprendizados adquiridos, pelas superações pessoais e pelas histórias
descobertas, só tenho a agradecer pela iniciativa, pela oportunidade e pela
organização (que é feita, em grande parte, pelos próprios alunos) e, além
disso, recomendar a todos os colegas, independentemente do período ou das
pretensões profissionais.
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