29/04/2020

Me indica uma série: Os Julgamentos de Gabriel Fernandez





"É normal que as mães batam nos filhos?"
“É normal bater com cinto?”
“É normal sangrar?”

Gabriel Fernandez tinha apenas 08 anos quando foi torturado e morto pela sua mãe e padrasto, em 2013. Meses antes o menino tinha acionado um “alerta” em sua professora ao fazer os questionamentos acima e, assustada com o que Gabriel poderia estar passando, ela recorreu ao auxílio da Assistência Social.
          Mais uma vez, a Netflix investe em uma minissérie, com seis episódios, demonstrando um relato completo e documentado do que aconteceu com esse menino que morava em Palmdale, norte de Los Angeles, EUA. Em “The Trials of Gabriel Fernandez” (“Os Julgamentos de Gabriel Fernandez”), além de contemplar a série de abusos sofridos pelo garoto durante oito (longos) meses, destaca as falhas de um sistema que não evitou o pior resultado.
Esse caso ficou famoso pela decisão sem precedentes nos Estados Unidos, que acarretou no julgamento de Pearl Fernandez (mãe), Isauro Aguirre (padrasto) – pela tortura e homicídio – e quatro assistentes sociais, pelo abuso infantil e falsificação de registros públicos. Isauro foi condenado à morte e aguarda execução na prisão de San Quentin, na Califórnia; Pearl decidiu se declarar culpada para evitar um julgamento e a pena de morte. Ela foi condenada à prisão perpétua sem a possibilidade de liberdade condicional. Já os assistentes sociais não chegaram a ser julgados, tendo acusações arquivadas.
          Responsável pelo caso, o Promotor de Justiça Jon Hatami atua como fio condutor do documentário, mostrando seu lado pessoal além de detalhes do caso. Além disso, os episódios contam com testemunhos de familiares e conhecidos do Gabriel, Pearl e Isauro, paramédicos, assistentes sociais e policiais responsáveis pelo caso.
Segundo os paramédicos que atenderam a ocorrência que levou o menino a óbito, havia diversas contusões na cabeça, costelas quebradas, pele queimada com cinzas de cigarro e mãos inchadas. Também, conforme o médico legista que realizou a autópsia, Gabriel estava com o estomago cheio de areia e fezes de gato.
Em declaração no Tribunal à portas fechadas, os irmãos da criança relataram que Pearl e Isauro costumavam o trancar em uma caixa de madeira, sem comida e sem o deixar ir ao banheiro, além dos espancamentos e insinuações de o garoto seria homossexual.
Durante oito meses, Gabriel viveu um verdadeiro pesadelo e era agredido constantemente pela sua mãe. Desesperado pela situação que estava vivendo em casa e sem saber para quem pedir ajuda, acabou contando tudo que estava acontecendo para sua professora Jennifer Garcia, que imediatamente tomou providências. 
Mesmo após a denúncia, Gabriel continuou sendo violentado. De acordo com colegas e a professora, constantemente a criança aparecia com o couro cabeludo machucado, lábios inchados, feridas no rosto e perfurações no corpo ocasionadas por tiros de pistola de ar comprimido.
Mais uma vez Garcia foi até as autoridades, e desta vez teve ajuda de familiares do garoto, que também estavam preocupados. Poucos dias antes do crime, policiais chegaram a visitar o local, mas nada fizeram.
Em sua sentença, o juiz Geoge L. Lomeli não hesitou em considerar os dois como culpados. “A vossa conduta foi horrenda e desumana. Até podia dizer que foi animalesca, mas isso seria errado porque até os animais sabem cuidar das suas crias ao ponto de sacrificarem as suas próprias vidas”, declarou.
Ao contrário de “Olhos que Condenam”, a falha aqui não foi do Judiciário, e sim de toda a estrutura que o antecede, em especial os assistentes sociais e a polícia, que negligenciaram as inúmeras denúncias realizadas pela professora e parentes do menino, fazendo com que o resultado fosse fatal.
Por fim, a minissérie apresenta outros casos similares, posteriores ao julgamento, demonstrando que o sistema continua falho e vidas continuam sendo roubadas ante a negligência Estatal e crueldade humana.
São cenas duras, relatos dolorosos e imagens extraídas do julgamento real, indo além de mera simulação dos fatos. Precisa ter estomago e sensibilidade para assistir os seis episódios e abrir os olhos para evitar que, aquilo que aconteceu com Gabriel, ocorra também com outras crianças.



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26/04/2020

Opinião - Em tempos de crise, lutemos pela poesia!




“E continuamos. É tempo de muletas.
Tempo de mortos faladores
e velhas paralíticas, nostálgicas de bailado,
mas ainda é tempo de viver e contar.
Certas histórias não se perderam.
Conheço bem esta casa,
pela direita entra-se, pela esquerda sobe-se,
a sala grande conduz a quartos terríveis,
como o do enterro que não foi feito, do corpo esquecido na mesa,
conduz à copa de frutas ácidas,
ao claro jardim central, à água
que goteja e segreda
o incesto, a bênção, a partida,
conduz às celas fechadas, que contêm:
papéis?
crimes?
moedas?”[2]

            A Terra, ao revolve-se sobre si, nos permite conhecer aquilo que nomeamos de dia e noite. Em tempos de enfermidade epidêmica na política, na economia e na saúde, tal movimento rotacional se dá por um caminhar contínuo dos ponteiros do relógio ao ritmo de incertezas, indignações e reflexões. E diante de tais aflições, uma entrevista do filósofo e sociólogo francês Edgar Morin[3], para a Folha de São Paulo, pode nos ajudar a elucidar um caminhar possível para o enfrentamento de problemas complexos da vida em sociedade.  
            O sociólogo advertiu acerca dos perigos em sustentarmos uma política voltada para o imediatismo e para a urgência de resultados financeiros. Neste aspecto, Morin não se referiu a um imediatismo e urgência como medidas de resolução a crises já instauradas, mas sim em como tais posturas dentro do âmbito político são causadoras de instabilidades e autodegradação da humanidade. Portanto, para ele, uma política voltada para o imediatismo e a urgência conferem um grande potencial lesivo naquilo que de fato é essencial: o ensino e desenvolvimento de uma consciência humana sobre a própria humanidade.
A supremacia do dinheiro resultou na crise democrática que vivemos, evidenciado pela proliferação da corrupção e, consequentemente, na ausência de confiança em nossos governantes. Para Morin, a desconfiança no Estado Democrático se instaura no seio da corrupção com o vazio do pensamento, abrindo as portas para a proliferação de regimes neoautoritários.
O filósofo mencionou como a imposição de regras liberais econômicas absolutas, propostas inicialmente pelos governos de Margaret Thatcher[4] e Ronald Reagan[5], foram fundamentais para a soberania do dinheiro sobre a política. E essa, para o filósofo francês, é a constituição da crise da democracia: a sujeição da política à dominação de um sistema econômico voltado exclusivamente para o lucro. Tal sujeição, “não tem consciência do destino da humanidade[6], ou como colocado por Boaventura Sousa Santos, inviabiliza o debate acerca dos processos civilizatórios.

A prova é a degradação da biosfera, que é evidente, e que vivemos na degradação da Amazônia ou na poluição das cidades, por exemplo, mas que é ignorada em detrimento de um benefício imediato. Assim, damo-nos conta de que vivemos em uma época de cegueira e sonambulismo. Isso participa da crise da democracia.[7]

Para Morin, agimos por muito tempo como sonâmbulos, acreditando que os problemas futuros — oriundos do imediatismo e urgência em se acumular riquezas sem medir as consequências, ignorando o potencial destrutivo da exploração desmedida da natureza e do próprio ser, que se dão e se mantém pelo desequilíbrio social e político — nunca chegariam. O combate ao sonambulismo, para o sociólogo, só é possível pelo regate da consciência enquanto comunidade e enquanto ao destino da humanidade.
A resolução de grandes problemas, requer uma pluralidade de conhecimentos que possibilitam um olhar amplo acerca da complexidade do conflito que se apresenta. A crise do pensamento e a crise da democracia em que vivemos, para o sociólogo origina-se da carência de reflexão política. Morin salientou que tal crise do pensamento não nega a existência de grandes pensadores políticos como Karl Marx e Toqueville, porém houve um distanciamento do debate intelectual na aplicabilidade e prática dessas reflexões no exercício político. Neste ponto, podemos traçar um diálogo com o posicionamento dado por Sousa Santos[8] acerca dos problemas decorrentes do distanciamento do debate político com o debate civilizatório. Este último debate, é entendido pelo sociólogo português como constituído de reflexões críticas acerca de alternativas políticas, econômicas, sociais e culturais que rompeu simbolicamente com o debate político a partir da queda do Muro de Berlim.
Para Sousa Santos, a articulação de ambas as esferas — civilizatória e política — é basilar para a constituição de uma sociedade mais humana e humilde[9]. A academia possui densa produção intelectual que alimenta o debate ético em termos daquilo que Santos nomeia de processos civilizatórios, que se inserido ao processo político possibilitará grandes saltos para a transformação social. Tal transformação, para Morin, só é possível pela instauração de um senso de solidariedade e proteção de interesses coletivos de perspectiva global, humanitária e universal. Para isso, a preservação da resistência e dos valores universalistas, humanistas e planetários são fundamentais.
Morin, ainda pontuou em sua entrevista que a incerteza — geradora de angústias e provedora de instabilidades institucionais férteis à ascensão de políticas e políticos autoritários —, deve ser enfrentada com coragem pela sociedade, pautando-se na fraternidade. Para isso, o ensino acerca do viver, que permitem o conhecimento humano e humanitário, é basilar para o enfrentamento de crises, superação de dogmas e aceitação de certezas e incertezas.
Temos dificuldade de enfrentamento e solução de problemas diante da vida, tanto enquanto indivíduo, como enquanto cidadão. E exatamente por isso o filósofo defende um ensino que debata e investigue a identidade humana para que de fato uma consciência humana se funde e que obstáculos que violam o bem estar coletivo, como a corrupção e a sujeição ao dinheiro em detrimento da saúde pública, da educação e da cultura, sejam superados.

Sobre poesia eu não penso, eu simplesmente faço: a minha poesia nasce do espanto. Qualquer coisa pode espantar um poeta, até um galo cantando no quintal. Arte é uma coisa imprevisível, é descoberta, é uma invenção da vida. E quem diz que fazer poesia é um sofrimento está mentindo: é bom, mesmo quando se escreve sobre uma coisa sofrida. A poesia transfigura as coisas, mesmo quando você está no abismo. A arte existe porque a vida não basta.[10]


            O escritor e crítico de arte Ferreira Gullar compreendia o potencial reflexivo da poesia para o entendimento do ser e do viver. Uma vida, sem ela, ficaria restrita ao que Morin definiu de prosa — relativa à sobrevivência, ao cotidiano repetitivo instaurado pelo processo de industrialização e a burocratização de nossas instituições em que temos o compromisso da sujeição —, causadora da degradação da qualidade de vida.
O entendimento de prosa proposto pelo filósofo francês, dialoga com a noção de esfera do agir racional-com-respeito-a-fins da Teoria da Ação habermaziana. Tal agir pauta-se em resultados e no lucro, prezando pela celeridade do desenvolvimento econômico, próprio de um mundo tecnicizado. Mas, esta é apenas uma das duas esferas do agir que compõem as atividades humanas, sendo a outra esfera denominada de interação. Nesta última reside aquilo que o filósofo alemão compreende por dimensão genuína da espécie humana: a linguagem e a nossa capacidade comunicativa. Na esfera da interação é onde a reflexão crítica, o debate intelectual e a poesia se manifestam.
A poesia, para Morin, corresponde à resistência do âmbito privado[11] em relação à hegemonia da prosa. Ela se dá nas relações de afeto e no jogo (que podemos traduzir por lazer, prazer, arte, produção de conhecimento e interações próprias do viver) que promovem a manutenção da qualidade de vida.
Vivemos num processo de despolitização que se funda na compressão da esfera interativa (a poesia) pela esfera do agir-com-respeito-a-fins (a prosa). Mais trabalho, mais consumo e mais exploração desmedida de recursos naturais para a concentração de renda, resultam na autocoisificação do homem que o distanciam de sua identidade humana, da criatividade, do diálogo, do viver fraterno em comunidade. Portanto, o combate à degradação política e democrática que estamos presenciando só é possível pela poesia.

Poetize-se!
E permaneça em casa.


[1] Estudante do Curso de Direito do Unicuritiba, e integrante do Grupo de Pesquisa de Ética, Política e Democracia da instituição.

[2] ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. Rio de Janeiro: Record, 2008. p. 40. [fragmento do poema Nosso tempo, a Oswaldo Alves.]

[3] PASSOS, Úrsula. Seguimos como sonâmbulos e estamos indo rumo ao desastre, diz Edgar Morin. São Paulo: Folha de São Paulo, 2019. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/06/seguimos-como-sonambulos-e-estamos-indo-rumo-ao-desastre-diz-edgar-morin.shtml>. Acesso em: 24.04.2020.

[4] Primeira-Ministra do Reino Unido de 1979 a 1990.

[5] 40º presidente dos Estados Unidos, de 1981 a 1989.

[6] MORIN in PASSOS,2019, p. 3.

[7] MORIN in PASSOS,2019, p. 3.

[8] SANTOS, Boaventura Sousa. A cruel pedagogia do vírus. Coimbra: Almedina, 2020. 33 p.

[9] SANTOS, 2020, p. 30-31.

[10] TRIGO, Luciano. 'A arte existe porque a vida não basta', diz Ferreira Gullar. Paraty: G1, 07/08/2010. Disponível em: <http://g1.globo.com/pop-arte/flip/noticia/2010/08/arte-existe-porque-vida-nao-basta-diz-ferreira-gullar.html>. Acesso em: 25/04/2020.


[11] Cabe ressaltar a distinção entre privado e íntimo, no âmbito da psicanálise. De acordo ao professor e psicanalista Christian Dunker, ao se pensar a mistura da esfera pública com a privada, a zona intermediária da intimidade se perde. Privacidade é aquilo que pertence ao indivíduo e tem sua privacidade regulada por ele. A intimidade como o nome mesmo o diz, é mais íntimo, aquilo que de fato corresponde ao que o indivíduo é, seus anseios e angústias. Nesse aspecto, podemos pensar numa dissolução dentro do próprio âmbito privado pela planificação/achatamento do ser pela prosa, proposta por Morin, em que o íntimo não se revela naquilo que apresentamos enquanto privado.
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25/04/2020

Agenda 2030: GLOBALIZAÇÃO, GLOBALISMO E DESIGUALDADES ECONÔMICAS E SOCIAIS NO SÉCULO XXI (ODS 10)







Maria da Glória Colucci[1]





          A expansão econômica da Europa ocidental, nos séculos XV a XVIII, se deu por vários fatores, dentre os quais, a exploração ultramarina, e a intensificação do comércio pela descoberta de antigas invenções, como a pólvora e a bússola, segundo Marvin Perry.[2]

          Para além dos anseios expansionistas dos conquistadores, houve a divulgação do saber acumulado pela criação da imprensa (Guttenberg – 1450) e a formação dos Estados Nacionais, aliados ao surgimento dos ideais libertários, culminando com a Revolução Francesa (1789).[3]

          O cenário político, econômico e social e a efervecência daí resultante abriram as portas para o que se considera a primeira fase da “globalização”, entendida como um período em que o comércio internacional parecia não ter fronteiras, apesar dos riscos de naufrágios, muito frequentes, por sinal.

          O período foi marcado pela presença de usos e costumes comerciais, principalmente nas cidades livres onde feiras de artigos oriundos da Ásia, como especiarias e seda, representavam forte atrativo aos ricos habitantes de cidades como Gênova, Pisa e Milão.

          Os mecenas, ricos comerciantes da época, estimulavam as artes, sobretudo a pintura, com a finalidade de parecem ser “cultos” e prósperos perante os nobres e frequentadores das Cortes.[4]

          A diversidade de costumes, oriundos das diversas regiões do mundo conhecido à época, e o intercâmbio comercial forneceram os elementos necessários ao surgimento de um novo tipo de pessoas, os habitantes das cidades. Aglomerados, empobrecidos e discriminados, oriundos do campo, em sua maioria estrangeiros ou não, formaram nas periferias das cidades em surgimento verdadeiros guetos.

Destarte, a marginalização que se espraiou pela Europa e a gritante segmentação social dai resultante podem ser apontadas como as remotas raízes das desigualdades sociais e econômicas que permanecem até hoje?

Independente da resposta, observa-se que a miséria, a pobreza e a prosperidade ainda convivem nas grandes cidades, com maior ou menor visibilidade, ao redor do mundo. Cidades globalizadas enfrentam graves problemas de segurança e urbanização.

Quanto ao “globalismo”, corresponde ao fenômeno de grandes organizações, nas mais distintas atividades, que se espalham em redes pelo mundo, dominando áreas, como da comunicação, a exemplo do Google, Apple, etc. No que se refere ao alcance destas redes e como influenciam e controlam a vida das pessoas, ditando costumes e gerando novas necessidades, é desnecessário ressaltar que “universalisam” o modo de ser desta ou daquela região do mundo, por exemplo, “ocidentalizando” modos de vestir, relacionar-se ou mesmo “vícios”.[5]

À globalização, ou comércio sem fronteiras físicas, culturais ou de outra natureza, somou-se o globalismo, espécie de domínio de grupos de informação, culturais ou mesmo religiosos, sobre grande parte do mundo pós-moderno.

Barreiras técnicas são necessárias para estabelecer limites à atuação destas organizações, a par de fixar padrões de ordem ética e social, em defesa das pessoas, do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável, como ressalta Luiz Olavo Baptista, ao analisar os reflexos da criação da Organização Mundial do Comércio (1995):



A partir da existência da OMC, passou a existir uma espécie de garimpo dentro das normas da organização. Foram criadas regras para contemplar questões que não estavam na previsão original, como desenvolvimento sustentável, proteção do meio ambiente e garantia dos direitos humanos.[6]



        Procurando o enfrentamento das desigualdades sociais no trabalho, em decorrência da evidente hipossuficiência dos operários, agricultores e empregados, em face das poderosas organizações internacionais do comércio, verificou-se, em palavras de Luiz Olavo Baptista, que:



[...] durante as negociações sobre as regras da OMC, houve uma resistência muito grande, inexplicável, por exemplo, em relação à cláusula social, que impunha padrões trabalhistas para assegurar condições mínimas de trabalho.[7]



          Os obstáculos ao reconhecimento dos direitos fundamentais continuam presentes e atualíssimos, não apenas no trabalho, mas no acesso aos bens e serviços, que representam não apenas satisfação de necessidades individuais e coletivas, mas status, vale dizer, aceitação, reconhecimento e “aplausos” dos demais, como sintetiza Zygmunt Bauman:



Como você já sabe o quanto isso depende de seu acesso aos bens de consumo, é óbvio que, para seguir suas inclinações morais, você precisa traduzir o postulado de “ser alguém” na capacidade de garantir que terá todos os bens, na quantidade e qualidade certas, de que precisa para fazer face à sua responsabilidade pelos outros.[8]



          As desigualdades têm fortes raízes na ampliação do campo de comércio e consumo, com a globalização, de um lado, e com o globalismo, de outro.

          Com a Carta do Milênio (ONU, 2000), procurou-se construir “Objetivos” (ODM), que representassem de forma universal o anseio comum de desenvolvimento dos povos (“Oito Jeitos de Mudar o Mundo”).

          O advento dos ODS (2015-2030), com a Agenda Global 2030 da ONU, promoveu em 17 Objetivos uma síntese universal dos direitos humanos fundamentais, presentes na grande maioria das legislações ocidentais, que devem ser reconhecidos e implementados no mundo.[9]

          Em especial, os ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ressaltam como núcleos de suas metas e estratégias a promoção da dignidade da pessoa humana e seus atributos essenciais, representados pelos direitos sociais (art. 6º da Constituição de 1988).[10]

          No ODS 10 propõe a Agenda Global 2030, expressamente, que deve ser um compromisso comum dos povos signatários: “Reduzir a desigualdade entre os países e dentro deles”.[11]

A redução das desigualdades econômicas e sociais é um desafio comum a todos os povos, cuja superação somente será alcançada mediante a promoção de sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável (ODS 16), contando com a cooperação internacional.[12]



Advogada. Especialista em Filosofia do Direito (PUC-Pr). Mestre em Direito Público (UFPR). Professora aposentada da UFPr. Professora titular de Teoria do Direito (UNICURITIBA). Orientadora do Grupo de Pesquisas em Biodireito e Bioética (desde 2001) – JUS VITAE – no UNICURITIBA. Membro do Instituto dos Advogados do Paraná (IAP). Membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Membro da Comissão do Pacto Global (OAB-Pr). Membro da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica (ABMCJ-Pr). Membro do Movimento Nacional ODS (ONU, Pr). Membro da Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia- AVIPAF. Membro do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do UNICURITIBA. Escritora e poetisa, com vários prêmios em textos jurídicos e poéticos.
[2]PERRY. Marvin. Civilização ocidental: uma história concisa. Trad. Waltensir Dutra, Silvana Vieira. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 267.
[3] Ibidem.  
[4] PERRY. Marvin. Op. cit., p. 268.
[5] PAESANI, Liliana Minardi. Direito e internet: liberdade de informação, privacidade e responsabilidade civil. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 23-25.
[6] BAPTISTA, Luiz Olavo. In: O Brasil e a globalização: pensadores do direito internacional. Organizado por Mauricio Almeida Prado, Renata Duarte de Santana. São Paulo: Ed. de Cultura, 2013, p. 19.
[7] Ibidem.
[8] BAUMAN, Zygmunt. Danos colaterais: desigualdades sociais numa era global. Rio de Janeiro: Zahar, 2013, p. 102.
[9] ONU. Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: https://sustainabledevelopment.un.org/?menu=1300
[10] BRASIL. Constituição da República Federativa do. 1988. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm
[11] ONU. Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: https://sustainabledevelopment.un.org/?menu=1300
[12]ONU. Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: https://sustainabledevelopment.un.org/?menu=1300


[1] Advogada. Especialista em Filosofia do Direito (PUC-Pr). Mestre em Direito Público (UFPR). Professora aposentada da UFPr. Professora titular de Teoria do Direito (UNICURITIBA). Orientadora do Grupo de Pesquisas em Biodireito e Bioética (desde 2001) – JUS VITAE – no UNICURITIBA. Membro do Instituto dos Advogados do Paraná (IAP). Membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Membro da Comissão do Pacto Global (OAB-Pr). Membro da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica (ABMCJ-Pr). Membro do Movimento Nacional ODS (ONU, Pr). Membro da Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia- AVIPAF. Membro do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do UNICURITIBA. Escritora e poetisa, com vários prêmios em textos jurídicos e poéticos.
[2] ONU. Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Disponível em www.nacoesunidas.org
[3] BRASIL. Constituição da República Federativa do. 1988. Disponível em www.planalto.gov.br
[4] COELHO, Luiz Fernando. Saudade do futuro. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2001, p.39-40.
[5] VOLPI NETO, Ângelo. Comércio eletrônico – direito e segurança. Curitiba: Juruá, 2001, p.21.
[6]PARANÁ, Jornal Gazeta do Povo. Dia Internacional da Internet Segura Disponível em www.gazetadopovo.com.br\blogs\educacao
[7] FREITAS, Marcelo Araújo. O processo judicial eletrônico: implicações na atuação do oficial de justiça. Curitiba: JM. Livraria Jurídica, 2011, p. 45.
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21/04/2020

Acontece no UNICURITIBA: O bem contagia mais rápido que o vírus – A iniciativa que já ajudou quatro comunidades carentes de Curitiba


Por iniciativa dos professores Dalton José Borba, Roosevelt Arraes e Luiz Gustavo de Andrade - todos integrantes do corpo docente da UNICURITIBA -, surgiu o projeto “O bem contagia mais rápido”. A campanha teve início no dia 19 de março a partir de uma publicação do professor Dalton Borba e, devido à grande repercussão, passou a ter o apoio do Instituto Mais Cidadania, do qual fazem parte os mestres Roosevelt Arraes e Luiz Gustavo de Andrade. 
O objetivo da campanha é a arrecadação de alimentos, água potável e produtos de higiene, principalmente sabão e álcool em gel. Com isso, seus idealizadores pretendem conseguir itens básicos de higiene e alimentação para entregar a famílias de comunidades carentes de Curitiba que foram atingidas de maneira devastadora pela chegada do novo coronavírus.
A principal finalidade do projeto é aliviar as dificuldades dessas pessoas de baixa renda, que tiveram sua situação econômica agravada por conta do avanço da Covid-19 em Curitiba. Sabe-se que muitas delas vivem em comunidades muito pobres e não possuem acesso nem mesmo ao saneamento básico. Elas dependem quase exclusivamente da renda proveniente de empregos informais - como reciclagem, venda ambulante etc. -, a qual praticamente deixou de existir com toda essa crise. 
A mãe de uma das famílias que receberam as doações, disse que antes da pandemia conseguia se manter com o serviço de reciclagem, que ela e seu filho faziam nas ruas da cidade. Entretanto, devido ao aumento de casos da Covid-19, ela não se sente mais segura ao realizar a coleta, já que os materiais podem estar contaminados pelo vírus. Esse era o único meio de obtenção de renda desta família e sem ele não possuem nenhuma outra forma de obter sustento. 
Para o professor Roosevelt Arraes as doações são importantes pois esses indivíduos sempre foram negligenciados pelas autoridades públicas, de modo que não lhes resta nada além da solidariedade. Quando perguntado sobre o valor dessas ações em um momento tão crítico como o gerado pelo coronavírus, Arraes disse que:

As pessoas devem estar saudáveis e tranquilas. Sem alimento, isso não é possível. As pessoas mais vulneráveis, estão sem renda, desamparadas. O poder público as abandonou há muito. Só resta a solidariedade.[1]

Para Ana França, acadêmica do curso de Direito do UNICURITIBA e participante ativa desse e outros projetos sociais ligados ao Instituto Mais Cidadania, a relevância das doações para as comunidades reside no fato de que a maioria dos moradores não tem acesso ao saneamento básico e, em decorrência da pandemia, estão sem nenhuma fonte de renda. Quando perguntada sobre porque acredita que as ações devam continuar e qual a importância das doações para as comunidades carentes, França afirmou que:

É fundamental iniciativas que busquem reduzir os impactos da pandemia, o momento é de união e solidariedade. As famílias que a ação está atendendo são compostas por pessoas que vivem em situações de extrema pobreza em Curitiba, em comunidades precárias (muitas vezes com falta de saneamento básico). As medidas de prevenção ao coronavírus dependem de acesso à água potável, ações como essas são fundamentais na falta de atuação eficaz da prefeitura de Curitiba. Muitas dessas famílias que vivem em situação de vulnerabilidade social dependem da reciclagem como fonte de renda, moradores relataram que com a arrecadação de 1kg de caixinha de leite conseguem 0,10 centavos (e no momento estão sem renda alguma). Precisamos conhecer a realidade e construir juntos uma sociedade mais justa e igualitária, o bem precisa contagiar mais rápido que o vírus.[2]

A aluna ainda afirma que a aderência ao projeto foi tamanha que além de professores, alunos e funcionários do UNICURITIBA, outras associações aderiram ao movimento. A associação Pio XII contribuiu com 96 cestas básicas e a Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas com 114. 
Até agora foram distribuídas cerca de quatro toneladas de alimentos, água potável e kits de produtos de higiene entre as comunidades da Vila Leonice, Vila Pantanal, Vila 29 de Outubro e Santa Cruz.  


    
As ações, no entanto, não param por aí. O Instituto Mais Cidadania ainda realizará mais entregas e por isso precisa do apoio de toda a comunidade - especialmente dos alunos da instituição - para receber novas doações. Os itens estão sendo recebidos na Rua Antônio Barbosa Ferraz Junior, 56, Bairro Portão. Para doar, entre em contato pelo telefone (41) 98862-0715. Para se manter informado sobre as entregas dos itens arrecadados, siga a página do Instituto no Instagram e curta a página do Facebook.
Faça parte desta corrente de solidariedade!

CONTATOS DO INSTITUTO MAIS CIDADANIA:
Telefone: (41) 98862-0715

REFERÊNCIAS
Imagens cedidas por Ana França. 


[1] Roosevelt Arraes, professor do curso de Direito do Centro Universitário Curitiba, em entrevista ao Blog Unicuritiba Fala Direito.
[2] Ana França, estudante do curso de Direito do Centro Universitário Curitiba, em entrevista ao Blog Unicuritiba Fala Direito.
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