12/08/2019

Acontece no UNICURITIBA: Alunos participam do Parlamento Universitário





A política significa um trabalho lento e forte de perfuração de duras madeiras ao mesmo tempo com paixão e acuidade visual. É inteiramente correto dizer, e toda a experiência histórica o confirma, que não se alcançaria o possível se não se tivesse sido movido sempre uma vez mais no mundo pelo impossível.[1]

            Considerado um dos fundadores da Sociologia, Max Weber defendeu a perspectiva da política como vocação, compreendendo como possível a unicidade da ética de finalidade última e a ética de responsabilidade àqueles com vocação para a política. Para o jurista alemão, tal vocação demanda dedicação pura ao trabalho diário e o cultivo da fraternidade entre os homens. E, é com as palavras de Weber que gostaríamos de iniciar nossa matéria sobre um projeto que aproxima a comunidade acadêmica do ofício de um deputado estadual. Através de simulações na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), estudantes universitários puderam conhecer o dia a dia de um parlamentar vivenciando o processo legislativo integralmente.
            Coordenado pela Escola do Legislativo da ALEP, o Parlamento Universitário teve a sua 4ª edição realizada neste ano, com 1419 inscrições e mais de 80 projetos de lei protocolados. O Centro Universitário Curitiba participa desde 2017, com acadêmicos parlamentares, sempre compondo as maiores bancadas das edições. Fato que, para o professor Luiz Gustavo de Andrade, deve-se tanto ao interesse dos alunos em Direito Constitucional — essencial para se realizar um bom processo legislativo —, como também por serem estudantes conscientes politicamente, e bem preparados tecnicamente.
Cada instituição de ensino participante atua como um partido político durante sete dias de simulação no Parlamento Universitário. Nesta última edição, o UNICURITIBA contou com nove estudantes em seu partido e mais três suplentes. A seleção interna dos nove parlamentares universitários e os suplentes foi organizada pelos professores Dalton Borba, Luiz Gustavo de Andrade e Roosevelt Arraes. Além do processo seletivo, os professores realizam uma aula sobre processo legislativo aos selecionados, bem como, acompanham os projetos de lei dentro do Parlamento Universitário.
A atuação dos alunos do UNICURITIBA é sempre elogiada pelos responsáveis do Parlamento Universitário na ALEP, tanto pela qualidade das propostas como pelo comprometimento com o processo legislativo. Um exemplo de destaque é o projeto apresentado pela então egressa Gabriela Lolia Damaceno, na edição de 2017. Gabriela expôs em sua proposta a necessidade de haver informações detalhadas nos rótulos dos produtos, principalmente quanto a origem da gordura animal nas rotulagens, visto que, muitas pessoas possuem restrições ao consumo de carne de porco. O projeto de lei de Damaceno tramita na Assembleia Legislativa do Paraná, estando muito perto de se tornar lei.
Conversamos com as alunas Clara Regina Espíndola e Eduarda Beatrice Pelentier, do terceiro e segundo período, respectivamente, do curso de Direito do UNICURITIBA. Ambas haviam participado da Câmara Municipal Universitária e foram selecionadas para integrarem o Parlamento Universitário, também deste ano. Desde muito jovens, Clara e Eduarda, já demonstravam interesse pela vida pública. Para Pelentier, o interesse vem de família, pois seu avô já havia seguido carreira política. Quanto a Espíndola, seu interesse pela política foi despertado por mulheres inspiradoras de seu convívio, uma delas a Dra. Clair da Flora Martins — a primeira mulher a ser eleita Deputada Federal no Paraná —, para quem trabalha atualmente.




Minha inscrição foi reflexo de seu incentivo em defesa da representatividade das mulheres na ocupação de cargos do legislativo, incluindo maior visibilidade nestes espaços, onde são majoritariamente preenchidos por homens. (...) A experiência foi altamente proveitosa. Na atual conjuntura política no Brasil, em que a polarização entre dois extremos ideológicos banaliza o interesse de assuntos inerentes da sociedade como um todo, conceder aos jovens universitários tal oportunidade é de grande valia na ampliação de conhecimentos acerca das atividades exercidas por nossos representantes no regime democrático.[2]

            Espíndola apresentou ao parlamento um projeto de lei que visava ampliar uma lei orgânica já vigente na cidade de Curitiba. Tal lei dispõe sobre a obrigatoriedade da permissão da entrada da doula, sempre que solicitada pela parturiente ou pelo médico obstetra responsável, em hospitais da rede pública e privada do Estado. Conforme descrito por Clara, “a doula acompanha a gestante durante todo o período anterior e posterior ao trabalho do parto, reforçando as novas concepções de parto humanizado”. Seu projeto de lei foi aprovado com unanimidade pela Comissão de Saúde e, no plenário, obteve 49 votos favoráveis.
            Para Clara, a participação dos universitários no Parlamento Universitário permitiu uma “experiência discente de ensino, pesquisa e formação cidadã”.




Conheci acadêmicos que realmente se importam com a atual situação política brasileira, o que é um diferencial de extrema relevância. (...) Aconselho a todos, todos mesmo, a participarem desse projeto espetacular. Pois tenho certeza que sairão dele com outra perspectiva sobre o mundo político, e com inúmeras experiências que ajudarão na vida profissional.[3]

            Palentier foi parlamentar universitária suplente, revezando com os colegas titulares do partido UNICURITIBA. Eduarda se inscreveu no projeto com a intenção de aprofundar o conhecimento sobre o processo legislativo, e considera a experiência que viveu no Parlamento Universitário imensurável. A estudante destacou a contribuição e aprendizado que adquiriu com o egresso de nossa instituição, e atual Diretor da Escola do Legislativo da ALEP, Dylliardi Alessi, bem como com os acadêmicos parlamentares que conheceu.

            Em suma, os estudantes inscritos no Parlamento Universitário possuem, o que Espíndola definiu de “vontade de tornar-se parte da mudança, mediante um novo olhar para a política”. Tal vontade, traz consigo a curiosidade e disposição transformadora que, muitas vezes está acompanhada da pureza, outrora pontuada por Weber. Esta, aliada ao projeto da Escola do Legislativo da ALEP, que propõe maior compreensão das técnicas legislativas, das leis e do conhecimento político, pode estimular nossos universitários a serem futuros políticos com vocação interna e objetiva para a política.



[1] WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. Tradução: Marco Antônio Casanova. São Paulo: Martin Claret, 2015. p. 138.
[2] Clara Regina Espíndola, em entrevista para o UNICURITIBA Fala Direito. 2019.
[3] Eduarda Beatrice Pelentier, em entrevista para o UNICURITIBA Fala Direito. 2019.
 



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