15/07/2019

Me indica um livro: “Uma Criança no Inferno”, de David Pelzer

A indicação de hoje é um tanto perturbadora, mas, ao mesmo tempo necessária. O livro “Uma Criança no Inferno”, de David Pelzer, trata de um tema pesado, triste, porém extremamente importante para refletir. Antes de seguir com a resenha, já deixo um aviso: é preciso ter estômago para concluir a leitura. Como já enunciado na própria capa do livro, os episódios de violência acontecem onde não deveriam: dentro da própria casa, pela própria mãe.
Trata-se de uma história autobiográfica, na qual o autor relata os maus tratos que sofreu enquanto criança. Em primeira pessoa e no ponto de vista de uma criança, Dave conta os inúmeros episódios de violência psicológica e física que sofreu desde os seus 4 anos.
O que, a princípio, era uma família comum e feliz, aos poucos foi se tornando um verdadeiro pesadelo para Dave, que viu sua mãe Catherine Roerva se tornar uma pessoa agressiva com ele, e seu pai, além de alcóolatra, omisso. De um dia para o outro, Catherine passou agir de forma agressiva com o Dave, tratando-o diferente dos outros filhos do casal e aplicando duros castigos a ele. Com o passar do tempo, as punições se agravaram para fortes violências físicas e abusos psicológicos. Incansavelmente, a mãe repetia a Dave que ele era um menino mau e que merecia tudo aquilo, fazendo uma “lavagem cerebral” não só nele, mas em seus irmãos também, afastando-os do convívio com o narrador.
Como se não bastasse, o menino passou a sofrer discriminação na própria escola, por parte dos colegas. Por ser impedido de comer em casa, Dave passou a furtar o lanche dos colegas, que não ficaram nem um pouco felizes. Além disso, ele era impedido de tomar banho e de lavar suas roupas e, por isso, constantemente ia à aula com mau cheiro. Ainda que professores e a coordenação tenham percebido esses detalhes, não foi o suficiente para ajudar o menor, visto que Catherine negava toda a situação, dificultando a solução do problema.
A realidade é que sua mãe estava em um surto de loucura, seu pai se afundou nas bebidas para “fugir” dessa realidade e seus irmãos, por serem crianças, achavam que tudo aquilo era normal.
De fato, embora a leitura seja relativamente rápida (132 páginas), não é uma leitura fácil, devido aos inúmeros relatos de violência. A cada página o desespero aumenta, a vontade de ajudar o menino é imensa, principalmente quando nos damos conta de que tudo isso se tratou de uma história real. Por isso digo que é um livro reflexivo. Ao ler os relatos, me perguntei inúmeras vezes o porquê disso tudo, o motivo da violência, a discriminação com apenas um dos filhos e o que mudou na mãe, que passou de uma pessoa atenciosa e carinhosa, para um verdadeiro “monstro”. Também, me questionei o motivo de o pai ser tão omisso, de não ter efetivamente ajudado o filho, assim como os demais parentes.
Mas a verdade é que não há um motivo. Não há uma explicação para a violência, ela simplesmente está ali e deve ser combatida. Embora seja uma leitura pesada e dolorida, é importante para nos fazer observar as pessoas ao nosso redor, as sutilidades de quem sofre qualquer forma de violência e a ter mais compaixão pelo próximo. Ninguém sabia o que acontecia dentro da casa de Dave, e ele sofria um duplo desprezo: por sua mãe, e por seus colegas, que não eram capazes de entender pelo o que ele estava passando.
Quantas pessoas poderiam ser salvas se nós nos atentássemos um pouco mais aos detalhes das vítimas, caladas por seus agressores? A palavra chave é EMPATIA. Tentar observar e entender as peculiaridades das outras pessoas antes de julgá-las e discriminá-las. As más vestimentas de Dave, seu mau cheiro e excessiva fome, carregavam um histórico de extrema violência, potencializada pela falta de empatia de seus colegas (que, embora também fossem crianças, deveriam ser instruídos pelos pais a serem mais “humanos”).


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