Além de estarmos
antenados às notícias que ocorreram durante as férias, a nossa equipe
aproveitou o descanso para curtir bons livros, filmes e séries. E, não
poderíamos deixar de compartilhá-los com vocês.
Por isso, escolhemos seis sugestões de obras instigantes para vocês
acompanharem com um balde de pipoca ou, no caso dos livros, com uma bebida
quente numa xícara reconfortante.
O CONTO DA AIA (livro)
Apesar de ter ganhado notoriedade apenas
recentemente, com o lançamento da série homônima, O Conto da Aia foi escrito em
1985 por Margaret Atwood, claramente inspirada na Revolução Islâmica de 1979.
Ao imaginar um país comandado por cristãos radicais, a autora mostra as várias
possibilidades de dominação que povos podem sofrer, vez que em momentos de
fragilidade, as pessoas tendem a confiar naqueles que trazem as soluções
rápidas, mesmo que para isso seja preciso sacrificar um pouco da tão falada
liberdade.
O Conto da Aia é uma obra-prima da literatura de ficção científica cuja leitura
causa incômodo e desconforto, principalmente por enxergamos nítidos traços de
realidade em suas páginas. É uma distopia poderosa para ser lida e assimilada
em toda a sua essência, alertas e mensagens.
QUARTO DE DESPEJO: DIÁRIO DE
UMA FAVELADA (livro)
A obra Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada
foi escrita na década de 1950 e trata-se de relatos do cotidiano da catadora de
papel Carolina Maria de Jesus em seu diário. Conhecido como literatura-verdade,
o livro é de uma profunda honestidade acerca da realidade de sua vida, do
contexto social que ela viveu, e sobre a precariedade e isolamento da favela em
relação à cidade. Devido a isso, a autora intitulou a favela como o quarto
de despejo da cidade, ou seja, uma região abandonada, temida e excluída pela
população e pelo Estado.
A obra de Carolina é uma denúncia de um sistema
econômico e político falhos, e socialmente excludentes. Além das dificuldades
impostas por uma vida repleta de restrições e violações — por ser mulher, negra
e moradora da favela —, a fome é o cerne da obra. Caso ainda estivesse viva, gostaria
de poder dizer a escritora que, setenta anos após o seu diário, todos possuem uma
moradia e alimentação dignas, e que a desigualdade social, o racismo e o
machismo acabaram. Mas, infelizmente não é possível dizer à Carolina — uma
mulher forte, detentora de uma verdade sincera e olhar lúcido sobre seu entorno
— que essas violências à dignidade humana foram vencidas. Hoje ainda temos fome,
física e moral.
SEX EDUCATION (série)
E no exato momento em que o governo
federal incentiva a abstinência sexual de adolescentes como programa para
evitar a gravidez precoce, a dica de série de volta às aulas é uma que não tem
medo de falar exatamente sobre sexo: Sex Education.
Produzida no Reino Unido, a série é
protagonizada pelo jovem Otis (Asa Butterlfield), que é filho da sexóloga Jean
Milburn (Gillian Anderson). O que mais chama a atenção na produção é justamente
o enfrentamento de temas que muitas vezes parecem ser tabus na sociedade.
Primeira vez, masturbação, masculinidade
tóxica, homossexualidade, relação abusiva, aborto, abuso sexual, sororidade
feminina. Todos esses temas fazem parte da adolescência e da juventude e, ao
contrário do governo federal, não são deixados de lado em momento algum,
fazendo com que o expectador enfrente toda essa realidade de uma forma natural.
As duas temporadas estão disponíveis no
catálogo da Netflix e merecem uma chance.
THE PURGE (série)
Distribuída mundialmente pela Amazon Prime
a série é baseada na franquia “Uma noite de Crime” (2013-2018), que
mostra a autorização do governo estadunidense em liberar para que os cidadãos
cometam crimes durante uma noite sem que sejam punidos por isso. Com os EUA em
crise, o argumento da “noite do expurgo” é diminuir o número de crimes
cometidos, vez que esta seria uma forma de os humanos liberarem seus instintos
assassinos durante 12 horas, diminuindo, assim, os crimes no restante do ano.
Por óbvio a ideia não dá certo, embora o governo tente vender a imagem de que
tudo está dentro dos conformes.
“The Purge” tinha como objetivo
trazer ao espectador críticas ao governo, bem como demonstrar a decadência
norte-americana e falar dos menos favorecidos, das mulheres subjugadas e da
divisão de classes. Entretanto, ao invés de focar nisso, acaba focando mais nas
histórias de terror da referida noite, esquecendo-se da ideia principal do
seriado.
A MENTE DO ASSASSINO:
AARON HERNANDEZ (minissérie)
A minissérie da Netflix é divida em três
partes, as quais discorrem sobre os crimes envolvendo o ex-jogador da NFL,
Aaron Hernandez, explorando as respostas de pessoas próximas e distantes do
astro. Ao longo dos episódios, que passam por traços de sua infância e
juventude, o público é capaz de perceber uma trágica e horripilante história
por trás do então astro de futebol americano.
Com uma narrativa não linear, “A Mente do
Assassino” apresenta diversos aspectos da vida de Hernandez, fazendo um
verdadeiro suspense e que nos mantém tentando adivinhar o “porquê” da
história, através de diferentes perspectivas.
NEGAÇÃO (filme)
Sob a direção de Mick Jackson, o filme Negação foi
lançado em 2017, e trata-se de um drama de tribunal, baseado em fatos reais. Como
o próprio nome do filme revela, a trama se debruça sobre a negação de David
Irving, um autodeclarado historiador, que defendeu veementemente a ideia de que
o holocausto não ocorreu. Ele processou por difamação a escritora e
pesquisadora Deborah Lipstadt por tê-lo desacreditado enquanto historiador em
sua obra.
Muitas questões interessantes para reflexão são
apresentadas no filme. Dentre elas, a questão ética no desenvolvimento de uma
pesquisa e produção científica, vista principalmente no viés ideológico adotado
por Irving, que o levou a distorcer fatos históricos para que corroborassem com
sua versão da Segunda Guerra Mundial. Outro ponto pertinente — principalmente aos
futuros advogados e juristas —, é o fato de que o longa apresenta o gradual
entendimento sobre o sistema processual britânico por Lipstadt. Sendo ela uma historiadora,
americana e leiga no mundo jurídico, isso gerou, por vezes, grandes
desentendimentos com seus próprios advogados. Pois, as estratégias adotadas por
eles em sua defesa, não faziam sentido para ela num primeiro momento. Mas, é um
filme interessante tanto para se conhecer uma pincelada desse sistema
judiciário britânico, quanto pela forma como os advogados de Lipstadt conduziram
o processo e a relação cliente-advogado.
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