"É
normal que as mães batam nos filhos?"
“É
normal bater com cinto?”
“É
normal sangrar?”
Gabriel
Fernandez tinha apenas 08 anos quando foi torturado e morto pela sua mãe e
padrasto, em 2013. Meses antes o menino tinha acionado um “alerta” em sua professora
ao fazer os questionamentos acima e, assustada com o que Gabriel poderia estar
passando, ela recorreu ao auxílio da Assistência Social.
Mais
uma vez, a Netflix investe em uma
minissérie, com seis episódios, demonstrando um relato completo e documentado
do que aconteceu com esse menino que morava em Palmdale, norte de Los Angeles,
EUA. Em “The Trials of Gabriel Fernandez”
(“Os Julgamentos de Gabriel Fernandez”), além de contemplar a série de abusos
sofridos pelo garoto durante oito (longos) meses, destaca as falhas de um
sistema que não evitou o pior resultado.
Esse
caso ficou famoso pela decisão sem precedentes nos Estados Unidos, que
acarretou no julgamento de Pearl Fernandez (mãe), Isauro Aguirre (padrasto) –
pela tortura e homicídio – e quatro assistentes sociais, pelo abuso infantil e
falsificação de registros públicos. Isauro foi condenado à morte e aguarda
execução na prisão de San Quentin, na Califórnia; Pearl decidiu se declarar
culpada para evitar um julgamento e a pena de morte. Ela foi condenada à prisão
perpétua sem a possibilidade de liberdade condicional. Já os assistentes
sociais não chegaram a ser julgados, tendo acusações arquivadas.
Responsável
pelo caso, o Promotor de Justiça Jon Hatami atua como fio condutor do
documentário, mostrando seu lado pessoal além de detalhes do caso. Além disso,
os episódios contam com testemunhos de familiares e conhecidos do Gabriel,
Pearl e Isauro, paramédicos, assistentes sociais e policiais responsáveis pelo caso.
Segundo
os paramédicos que atenderam a ocorrência que levou o menino a óbito, havia diversas
contusões na cabeça, costelas quebradas, pele queimada com cinzas de cigarro e
mãos inchadas. Também, conforme o médico legista que realizou a autópsia, Gabriel
estava com o estomago cheio de areia e fezes de gato.
Em
declaração no Tribunal à portas fechadas, os irmãos da criança relataram que
Pearl e Isauro costumavam o trancar em uma caixa de madeira, sem comida e sem o
deixar ir ao banheiro, além dos espancamentos e insinuações de o garoto seria
homossexual.
Durante oito meses, Gabriel viveu um
verdadeiro pesadelo e era agredido constantemente pela sua mãe. Desesperado
pela situação que estava vivendo em casa e sem saber para quem pedir ajuda,
acabou contando tudo que estava acontecendo para sua professora Jennifer Garcia,
que imediatamente tomou providências.
Mesmo após a denúncia, Gabriel continuou
sendo violentado. De acordo com colegas e a professora, constantemente a
criança aparecia com o couro cabeludo machucado, lábios inchados, feridas no
rosto e perfurações no corpo ocasionadas por tiros de pistola de ar comprimido.
Mais uma vez Garcia foi até as autoridades,
e desta vez teve ajuda de familiares do garoto, que também estavam preocupados.
Poucos dias antes do crime, policiais chegaram a visitar o local, mas nada
fizeram.
Em sua sentença, o juiz Geoge L. Lomeli
não hesitou em considerar os dois como culpados. “A vossa conduta foi horrenda e
desumana. Até podia dizer que foi animalesca, mas isso seria errado porque até
os animais sabem cuidar das suas crias ao ponto de sacrificarem as suas
próprias vidas”,
declarou.
Ao contrário de “Olhos que Condenam”, a
falha aqui não foi do Judiciário, e sim de toda a estrutura que o antecede, em
especial os assistentes sociais e a polícia, que negligenciaram as inúmeras
denúncias realizadas pela professora e parentes do menino, fazendo com que o
resultado fosse fatal.
Por fim, a minissérie apresenta outros
casos similares, posteriores ao julgamento, demonstrando que o sistema continua
falho e vidas continuam sendo roubadas ante a negligência Estatal e crueldade
humana.
São cenas duras, relatos dolorosos e
imagens extraídas do julgamento real, indo além de mera simulação dos fatos.
Precisa ter estomago e sensibilidade para assistir os seis episódios e abrir os
olhos para evitar que, aquilo que aconteceu com Gabriel, ocorra também com
outras crianças.